Passam por mim, sinto-lhes os passos...no ar a suas respirações e nem por isso uma palavra. Mas existem, são os outros. São gentes...gentes que cruzam o meu caminho e em mim deixaram o seu rasto.
Partes de mim, silêncios meus e até sombras de uma vida...

Um lugar, várias histórias e uma imensidão de palavras constituem a verdadeira essência das"Gentes" da minha terra.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Patriotas por um dia


Ao som das vuvuzelas…


Segunda-feira! Não acredito,mais uma semana.

Não posso simplesmente recuar dois dias e voltar a estar em plena Costa Alentejana? Porque será que sempre que faço perguntas ao tempo tenho respostas silenciosas?
Um dia ainda o engano…

Nasce o sol, começa o verão…na rua circulam corpos desprovidos mas ainda sinto o fresco de um calor tímido. Mais um dia e ele teima em não aparecer, os minutos passam e sinto em mim a ansiedade de não conseguir chegar. Aí está ele, mas atrasado.

Algo está diferente…onde estão os ruídos zangados de quem é parte integrante de uma crise nacional? Onde estão as lamentações de quem sofre na pele o aperto do cinto?
Parece que todas as lamurias ficaram perdidas no tempo, dando lugar a uma euforia colectiva…Joga Portugal!!!!

É incrível a capacidade que o futebol tem…capaz de criar uma amnésia momentânea, tornando-nos apenas rostos de uma voz.

Por breves instantes sinto-me à parte de toda esta empatia mas é impossível ficar indiferente a todo este movimento…FORÇA PORTUGAL!!!

Chego ao escritório, o jogo está na ordem do dia…parece que hoje temos almoço futebolístico.

Aqui estou eu de olhos postos na televisão. Para além dos 11 que correm em campo e do verdadeiro treinador ainda estou rodeada dE “ Grandes” treinadores de bancada. Na frente uma mulher histérica que fala com a televisão…recorda-me a minha avó quando está a ver a novela e teima em conversar com os actores. Atrás, um miúdo de voz irritante que ligou as pilhas e parece que ficaram para durar…

Por lá os outros…homens de meia-idade que acarinham os nossos jogadores com termos perversos, jovens que discutem a táctica da nossa equipa e o proprietário do espaço que tem sempre uma “piada” a dizer.

Apesar de todo este ambiente popular sinto-me na minha terra, com a minha gente…

O coração palpitante, as mãos suadas e os sons do entusiasmo, naquele espaço, foram totalmente abafados por uma voz vinda da cozinha…esta alma bradava aos céus e por intermédio do divino rádio partilhava com todos os seus fiéis as previsões daquele momento.

A verdade é que de divino não tinha nada mas de ridículo teve muito...dei por mim de olhos fechados e ouvidos postos no fundo daquele lugar. Pobre alma desprovida de atenção…certamente.

O apito toca e ali estava uma pequena amostra de uma nação esperançosa e orgulhosa daquele momento.

Sempre ouvi dizer... "mais vale ser feliz um dia do que infeliz toda a vida".

Agora é hora de regressar...

Até breve!

sábado, 19 de junho de 2010

No fundo do baú...


Há uns dias atrás...

Toca uma, toca duas, toca três…peço que pare, mas continua. Não é possível estar a pedir ao meu telemóvel que simplesmente desligue o despertador…estou ensonada, quero dormir. Ganho balanço e levanto-me, a partir daí parece que tudo funciona como uma dança. Banho, roupa, pequeno-almoço, o último olhar para o espelho e sair…

Não acho normal, está a chover…porque é que ninguém me disse que hoje era dia de calçar as botas? Não vou voltar atrás, deixo-me ir…sinto os pés molhados, o cabelo a encolher e tenho a sensação que o Inverno não passou. Aí está ele, o meu autocarro…entro, fico de pé a ouvir as histórias hilariantes do fim-de-semana de pequenos adolescentes à espera de crescerem. E apesar daquele barulho ensurcedor gosto de ouvir as suas “aventuras”.

Ainda me sinto dormente, encosto a cabeça ao vidro e tento fechar os olhos mas os solavancos do autocarro não me permitem cair no sono. O autocarro pára, saem algumas pessoas e de repente, ao olhar para a paragem, vejo um vulto familiar. Aquela cara, o ar apático, e algumas características faciais que reconheceria em qualquer lugar...encontrei-o no fundo do baú das minhas memorias.

Recuo cerca de 10 anos e ele está lá. Recordo-me da sua alcunha, da forma como era alvo de gozo dos outros miúdos, e pela forma como vivia o seu mundo. Para todos nós ele não era normal, havia quem o achasse "deficiente"…mas na verdade a sua única deficiência era atenção. Deve ter sido por isso que durante algum tempo ele achou que eu era o amor da sua vida. Como é possível uma criança na entrada da adolescência sofrer por amor ao ponto de simular um suicídio? Acho que na altura não dei grande importância, mas o facto é que ele ia atirar-se, no entanto era provável que àquela altura conseguisse "apenas" partir uma perna.

Hoje não conheço o seu rumo, não sei onde pára mas o facto é que marcou de alguma forma parte da minha vida. Durante algum tempo senti a sua perseguição, por vezes incomoda mas sem malícia. Por vezes pensava...mas porque é que apenas os rapazes “assim” se interessam por mim.?Quando somos crianças as nossas inseguranças são tão simples, por vezes até ridiculas... mas naquele momento era o maior dos dramas.

Anos mais tarde percebi que isto não era um defeito, era mesmo feitio. Por mais espontânea e impulsiva que fosse sempre fui atenta, sempre dei importância aos outros (o que nem sempre foi bom), e foi esta atenção que sempre levou até mim pessoas completamente à parte.
O autocarro partiu e fiquei a pensar no seu gesto à 10 anos atrás…de alguma forma fui importante para ele. Por mais insólito que seja, tudo tem o seu significado…

Até Breve!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Hoje...não as quero ouvir!



Ontem foi assim…


Um dia cheio…trabalho, trabalho e para terminar uma passagem pelo ginásio para não deixar descurar a imagem. Que depois dos relatos que se seguem vai ser totalmente posta em causa.

Apesar do cansaço visível no meu corpo quero treinar até ao fim, mas o relógio chama por mim...são horas, horas de sair. Saio a correr, apenas o tempo de passar no balneário e trazer a mala…corro e quando chego à paragem ainda sinto as marcas do último exercício.

O banho? Esse ficou para trás…ainda carrego em mim o suor de uma hora e meia de treino. Repugnante? Talvez…mas quando se entra num autocarro onde os odores se misturam, as pessoas se confundem e os olhares se apagam a minha fragrância perde-se totalmente no ar.

Caras desconhecidas, vozes ausentes mas nem por isso deixam de influenciar toda uma viagem. Quase adormeço…lembro-me que no meio de toda aquela confusão esqueci-me das sandálias…por breves instantes sinto-me perdida na “Cinderela”. É no meio de toda esta divagação que surgem três gargalhadas enormes que me acompanharam durante um longo percurso.

Três personagens aparentemente insignificantes mas com uma enorme capacidade de me instalarem uma severa dor de cabeça. Senhoras para além da meia-idade que riem no autocarro como se não houvesse amanhã, são às dezenas. Mas estas tinham a particularidade de ter um riso completamente intolerável. Para a acrescentar a toda esta sonoridade as senhoras relatavam um episódio que uma delas tinha assistido. Parece que viu duas raparigas totalmente despidas de preconceito a trocarem uns beijinhos, aquela alminha estava escandalizada mas nem por isso deixava rir. Pior ainda eram as piadas…

Mas será que ninguém explicou a estas senhoras que misturar comprimidos dá nisto? Penso que não…certamente que a saga da velhotas do autocarro não fica por aqui.

Eu só imaginava se alguma tinha incontinência…então é que essência do autocarro passava de incómoda a insuportável.

Resumindo, bastaram três seres para tornar o que restava do meu dia bem mais difícil...


É mais do que motivo para dizer aqui na minha terra que ”Raios partam as velhas…”

Até breve!

A Vida dos Outros...

"As vidas dos outros nunca me soam mal

Vêem problemas no que é no fundo normal

Ai se eles soubessem como é viver assim

As vidas dos outros são tão simples para mim"

Nunca deram por vocês a falar dos "outros"...a comentar a vidas dos "outros"?A verdade é que é muito mais fácil olhar para um retrato que não o nosso. Por vezes torna-se demasiado doloroso olhar para o nosso espelho...e quando olhamos parece tudo tão baço.

Então, porquê falar de mim se posso falar dos outros...

(Será mesmo assim?)

Até Breve!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O Regresso da Escrita


Depois do “ Outro Lado da Linha” senti necessidade de voltar a escrever, senti falta das minhas palavras…do meu ser. Procurei em mim uma ideia, algo que me fizesse criar, mas durante alguns dias não consegui pensar em nada de relevante.

Durante algum tempo imaginem a minha vida como um filme, eu, a personagem principal e os outros, meros figurantes. Tudo na vida se centrava em mim, nos meus gestos, nas minhas atitudes, nas minhas palavras. Os outros? Eram sombras, pequenos vultos que me transportavam para outros lugares, para outros momentos. Mas esta imagem não passou de uma alucinação, pois quem seria eu sem que os outros agissem? Pouco ou nada, apenas alguém a deambular, alguém a seguir os seus próprios passos em direcção a algum lugar.

Quem sou eu? Um ser social (por vezes até demais) que vive e convive todos os dias com os seus semelhantes, e por vezes com os seus opostos. Sou alguém, mais uma, uma pequena gota num mar repleto de gente. Parte integrante de uma história, mas não a sua verdadeira protagonista.

Voltar a escrever foi uma necessidade, mas não queria algo demasiado íntimo. Então nasceu “Gentes da minha terra”, um espaço de todos, um espaço dos outros, um espaço meu. Um lugar onde as historias ganham vida e onde cada momento ganha rosto. Aqui vou falar de todos aqueles que por algum motivo contribuíram para minha história, aqueles mais importantes e até mesmo os insignificantes. Não vou usar os seus nomes, pois não importam…vão ser apenas registos das suas experiências, das nossas experiências…

Se será interessante? Não sei…

Se será importante? Para mim…

Mas uma coisa é certa…será uma homenagem, será por vezes uma revolta, e quem sabe até mesmo uma critica…

Até Breve!