Hoje apeteceu-me escrever, dizer tudo aquilo que penso e contar os meus desejos mais íntimos. Hoje apeteceu-me encontrar-te e explicar-te da forma mais básica a essência da vida e da felicidade. Hoje lembrei-me de ti e de como deixo que ainda afectes a minha vida. Hoje quis esquecer-te e colocar um ponto final na tua existência.
Sei que dificilmente reconhecerás as minhas palavras, sei que muito provavelmente não conhecerás a existência deste lugar, sei com toda a certeza que nunca irás ler esta carta, só não sei se mesmo assim valerá a pena.
Aquilo que vou escrever é um desabafo, uma libertação de algo que me repugna e não aceito, aquilo que vou partilhar é o virar de uma página, o enterrar de uma sombra que deixou de existir.
Sei que no mais intimo de ti me odeias e que no mais profundo de ti te questionas, mas também sei que nunca perceberás todo o respeito que algum dia respirei por ti.
Quando penso em ti vejo o teu rosto, linhas pesadas mas disfarçadas por uma cor que te favorece. Percorro o teu olhar e tento encontrar a explicação para tanto desconhecimento, mas só consigo ver um olhar vazio aliado a um sorriso perdido.
Não penses que te subestimo, que te desprezo, apenas ignoro a tua realidade e questiono a tua essência. Pensar em ti é encontrar um vazio, um corpo despido de emoções e de verdade, imaginar-te é questionar cada gesto teu, cada palavra, cada intenção que provocas.
Confesso que nos meus desejos mais íntimos pedi a tua tristeza, pedi a confusão, pedi a verdade, não pedi por mim mas por ti, para perceberes que a vida é real e que o mundo é mais do que um jogo onde as peças são imunes. Mas quando percebo tais pensamentos me condeno, me julgo e reformulo cada desejo.
Não sei se algum dia vais acordar desse teu pesadelo, nem se tão pouco vais perceber que ele existe,mas espero, sinceramente, que um dia seja possível.
Minha cara sombra, hoje, te devolvo ao mar de onde nunca saíste, hoje dispo-me de ti sei que nem uma marca exista, hoje desejo-te o mundo e ignoro-te da minha realidade.
Perdoa-me se algum dia não te olhei com dignidade, perdoa-me se algum dia senti pena da tua imagem. Quanto a mim resta-me agradecer por teres lançado no meu caminho pedras pesadas e marcantes, por teres tornado cada passo uma vitoria e por teres proporcionado uma passagem inesquecível.
Hoje fecho o livro e escrevo a última frase, encerro a página e despeço-me de ti...
“Percorrendo caminhos longínquos encontrei o teu, sem pedir licença escalei cada uma das tuas montanhas e descalça cheguei ao fim. Olhaopara trás e vejo o caminho que outrora nos foi comum, ao longe ainda encontro parte das tuas pegadas mas sinto a tempestade que libertei e estou certa que ela irá apagar cada rasto teu”.
Adeus!
Até breve!