Passam por mim, sinto-lhes os passos...no ar a suas respirações e nem por isso uma palavra. Mas existem, são os outros. São gentes...gentes que cruzam o meu caminho e em mim deixaram o seu rasto.
Partes de mim, silêncios meus e até sombras de uma vida...

Um lugar, várias histórias e uma imensidão de palavras constituem a verdadeira essência das"Gentes" da minha terra.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Devaneios pela madrugada...


Aqui estou eu…algum tempo depois das últimas palavras…

Os dias passavam e eu planeava o meu regresso, mas “viver” não me permitia despender o tempo necessário a este meu lugar. Senti falta da minha escrita, senti falta da minha inspiração, senti falta essencialmente deste meu refúgio de momentos…

Não pensem que as histórias faltaram porque todos os dias existia alguém que tocava a minha vida, uns mais que outros é certo, mas foram muitas as gentes que tocaram o meu mundo e que contribuíram para o "hoje". Porém quis esquecer os outros, pensar em mim e viver o meu ego sem que os gestos dos outros fossem significantes para o meu dia-a-dia. Mas eles continuaram por cá, mesmo com a perda de alguns e com ausência de outros, pois a verdade é que sem eles pouco ou nada faria sentido…

Continuo no meu mundo com as minhas gentes, mas os rostos parecem diferentes. Sinto-me no mesmo lugar, mas sei que mudei de “casa”, sei que ainda estou perto mas suficientemente longe dos meus “vizinhos”. Mudei de “rua”, mudei de repente, caminho e sinto-me cheia de força, tento não olhar para trás para não sentir a nostalgia de outros tempos, mas não resisto pois ainda consigo ver as casas daqueles que outrora faziam parte do meu quotidiano.

Volto a respirar e no ar encontro a minha nova essência, tento decifrar os seus aromas mas a minha inexperiência ainda não me deixa ser precisa, mas sigo em frente…sei que não a conheço, sei que este perfume pode ser ilusório e quiçá temporário mas gosto da sensação que me provoca…caminho…

Em todos os dias desta minha nova permanência vi novas gentes, conheci novas realidades e descobri que todas elas tem a capacidade de penetrar no meu ser, de marcar o meu corpo e deixar rastos de experiências em todos os meus pensamentos.

"Recordo a Sra. dos “banhos”, alguém que se despe de preconceitos, alguém que se deixa levar pela sua loucura e percorre caminhadas longas por jardins enquanto se banha em lagos, repuxos e tanques em camisa de dormir sem qualquer pudor. Dizem que se apaixonou e teve um desgosto que traçou o seu caminho para toda uma vida..."

"Recordo o casal do comboio, senhores de avançada idade que em 15minutos de uma viagem partilharam entre si momentos apaixonados de uma vida a dois, as suas palavras deliciaram-me a cada história. No final olharam para mim enquanto se ajudavam mutuamente no seu caminho e disseram – “minha menina não queiras ser velha”. Depois destas palavras só me conseguia imaginar assim…feliz apesar de tudo."

"Relembro as histórias de uma brasileira, que em cada dia percorrido no autocarro partilhava os seus momentos de luxúria, devaneio e loucura com os homens com quem viveu…senti o orgulho nas suas palavras e em nenhum momento mostrou arrependimento por algum daqueles seus episódios mais obscuros."

Todos estes são testemunhos de uma vida, de um caminho, de uma história…todos eles me mostraram de uma forma indirecta que na vida não há o certo ou errado, há a vida e esta tem de ser vivida a cada dia.

É certo que existem consequências de todos os nossos passos e devaneios mas se não os vivermos nunca saberemos se este era o caminho…

Está a tocar...6:30 hora de ir trabalhar, parece que o calor desta noite fez-me despertar mais cedo…
Acordar durante a noite, mergulhada em suor e embutida em pensamentos profundos despertou em mim, novamente, a vontade de divagar.

Perdoem-me minhas “gentes” se me alonguei em todo este depósito de palavras, mas senti falta de vos ter perto de mim…

Prometo…até breve!





Sem comentários: