Passam por mim, sinto-lhes os passos...no ar a suas respirações e nem por isso uma palavra. Mas existem, são os outros. São gentes...gentes que cruzam o meu caminho e em mim deixaram o seu rasto.
Partes de mim, silêncios meus e até sombras de uma vida...

Um lugar, várias histórias e uma imensidão de palavras constituem a verdadeira essência das"Gentes" da minha terra.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Pénelope a "cruz"


Horas de saída! 

O relógio marca 18:40, um suspiro e um sorriso rasgado. 
Apetece-me aproveitar o dia que tarda em adormecer mas sinto-me totalmente absorvida pelo cansaço.  Os meus olhos cedem pelo esforço e o meu corpo tem em cada membro as marcas de uma posição sedentária.

Corro para casa e para o conforto de meu espaço. Após longos minutos de caminhada, finalmente, deixo-me levar pelo êxtase de colocar a chave na fechadura. 

Os braços envolvidos de malas e sacos, o rosto pesado e a esperança de um minuto de descanso.

Do outro lado da porta ouço as tuas lamurias e ansiedades e desejo mimar-te até acalmares. Abro a porto e sinto-me absorvida pelas marcas da tua rebeldia. O meu estado altera-se e o meu rosto ganha uma força demoníaca. Dou um berro e só me apetece...nem sei. Papeis e cartão espalhados pela sala, manchas da tua incontinência nos lugares mais variados e os teus pelos por todo lado.

Por vezes pergunto-me, o que terá passado pela cabeça da minha mãe para me oferecer o símbolo mais declarado de uma solteira? Mulheres solteiras a viverem sozinhas e com gatas é cada vez mais a imagem perfeita de uma solidão permanente. Por ironia do destino consegui tornar esta ideia errada e converter esta imagem numa versão temporária.

Depois da gritaria e do dicionário completo de asneiras ter sido banalizado na minha sala, olho para ela e não consigo sentir raiva...

Parte da minha vida, companheira de lágrimas e alegrias, obstáculo ao meu conforto e descanso, mas educadora da minha paciência.
Por mais difícil que seja, por mais complexa que pareças...és minha!

Até breve!

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