Passam por mim, sinto-lhes os passos...no ar a suas respirações e nem por isso uma palavra. Mas existem, são os outros. São gentes...gentes que cruzam o meu caminho e em mim deixaram o seu rasto.
Partes de mim, silêncios meus e até sombras de uma vida...

Um lugar, várias histórias e uma imensidão de palavras constituem a verdadeira essência das"Gentes" da minha terra.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Conversas de Mulheres

Depois de algumas lamurias, devaneios e até imagens de um mundo mais obscuro...hoje resolvi postar um pouco daquilo que nos faz sorrir...

Reconheço neste vídeo algumas conversas de meninas, de mulheres, de amigas...quantos serões ganhos a falar de homens, sexo e fantasias...

Os defeitos, as virtudes, o desempenho, as novidades, o tamanho, os orgasmos (os simples e os múltiplos)as palavras, as desilusões...

Se para os homens falar de sexo é resumir uma boa queca para as mulheres é mais do que isso é ir bem ao fundo da questão...literalmente!




Deu para aprender alguma coisa rapazes??

Até breve!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Às sombras de todos os dias...


Gritei em silêncio, andei sem destino e nem uma lágrima…senti-me vazia, triste, mas sabia que voltar atrás não era de todo a solução.

Algures no tempo, nem tanto tempo, senti-me assim…perdida.

Olhei o rio, caminhei por recordações distantes, sonhei com o amanhã, mas continuei perdida.

Mais um dia daqueles, precisei do fundo para ganhar folgo e voltar à tona…Consegui!

Este é daqueles momentos que algo simples e inesperado acontece…surgem “
alguéns”, palavras e sorrisos desconhecidos, forças distantes…e aqui sinto que estou em segurança.

Por algumas horas, entre conversas e risos, treino e esforço senti-me livre…não deixou de doer mas o cansaço fez-me chegar à cama, suspirar e aproveitar um sono profundo.

Mais do recordar um daqueles momentos em que nos sentimos no final da linha, mais do que recordar o medo de cair, é agradecer aos que nos rodeiam, aos amigos, à família, aos conhecidos e até mesmo aos desconhecidos que cruzam o nosso caminho e em algum momento estiveram presentes…

Mesmo sozinha continuo a precisar das sombras que me envolvem e que me fazem sorrir todos os dias…gentes do meu mundo que mesmo distantes continuam aqui,mesmo na porta ao lado!

Até breve!

domingo, 29 de agosto de 2010

Promessas...

Mais do que uma música...





Esta é daquelas músicas que acompanha momentos, que traduz sentimentos e que em cada nota, cada palavra há um gesto que se revela. Sou daquelas pessoas que tem sempre uma música, cada fase, cada momento tem agregado a si uma letra, um ritmo.

Esta para além de me tocar particularmente é a música de fundo perfeita para o mundo que me rodeia. Cada vez que a ouço recordo conversas, histórias e momentos das minhas gentes…dos meus amigos…da nossa vida.

A vida é uma promessa…todos os dias, todos nós prometemos que vai ser diferente, que vai ser perfeito, que hoje é o dia e que tudo vai correr bem. Quem nunca prometeu? Quem nunca tentou traduzir os seus sentimentos em promessas? Sejam elas reais ou apenas fruto de uma imaginação de momento são sentidas e dão ao tempo onde surgem uma maior intensidade. Mesmo que um dia elas não passem de promessas, de palavras soltas e perdidas no tempo foram importantes enquanto duraram…

Nestes últimos tempos tenho partilhado momentos e histórias com os mais intimos…perdas, desilusões, enredos e angústia…E apesar dos personagens serem bem diferentes e os argumentos díspares houve algo em comum em todas estas histórias…nenhuma delas teve um final feliz e as que duram não são mais do que promessas perdidas que um dia vão acabar por partir…

Histórias repletas de amores imperfeitos, de trios amorosos, de paixões perdidas, de encontros casuais, de juventudes desperdiçadas e de males necessários…

Pergunto-me se vale a pena, se vale a pena seguir o coração e deixar-nos ir ao sabor do vento, se vale a pena prometer que vamos ser felizes mesmo sabendo que um dia não passará de uma recordação perdida algures no tempo…

Sei…sabemos que tudo é um risco, tudo é um tiro no escuro e que cada passo acrescenta-nos algo, mas será que vale a pena arriscar tanto, mergulhar num mundo tão repleto de se nãos…quantas histórias controversas, verdadeiras novelas e repletas de obstaculos tiveram finais felizes? Para além dos exemplos cinematográficos e dos romances retratados em livros, onde estão elas?

Esta semana ouvi uma frase…uma daquelas que surgem no ar em contextos simples mas que por vezes podem ser transpostas para o complexo. Era algo do género…

“Quando estiveres a fazer algo que te pareça difícil, pára! Porque de certeza que estás a fazer mal…”
Palavras sábias ou não têm o seu sentido….mas apesar de concordar que a vida não deve ser complicada por defeito no fundo acho que se tentarmos e no fim até der certo então de certeza que valeu a pena…

Hoje deixo-vos com esta música…a música dos “outros. Eu vou até à praia, pois existem momentos em que mesmo rodeada das minhas gentes a solidão é a melhor promessa de que nunca vou estar sozinha…
Até breve!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Encontro inesperado



Nos meus rascunhos...há uns dias atrás...

Domingo...

Olho pela janela e o sol já brilha e apesar da leve brisa que se faz sentir certamente que será mais um dia de calor intenso...

Ainda deitada na cama sinto vontade de escrever...tentei voltar adormecer mas o sono desapareceu e deu lugar a uma verdadeira espertina.

Mas a sensação de acordar às 8 em pleno domingo dá-me uma certa frustração, recorda-me que no sábado pouco antes da meia noite já estava a dormir. Que se passa comigo? Será que já sinto a responsabilidade da mudança? Ou apenas cedi depois de um dia cheio de tudo…

Cedo ou não o que é certo é que finalmente arranjei espaço para a minha inspiração…ou não…

Hoje vou contar-vos uma pequena história, daquelas que só acontecem comigo (com os outros).

Num dia desta semana, igual a todos os outros, acordo, tomo banho e olho pela janela para escolher a indumentaria...saio a correr e apanho o autocarro que me vai levar ao meu destino, ao trabalho.

Coloco os “fones” e deixo-me perder por pensamentos longínquos, fecho os olhos e deixo-me penetrar por cada letra, por cada música. Ao fundo uma voz que chama por mim, não percebo que surge da realidade, por breves instantes esqueço-a. Mas continua…então abro os olhos e vejo alguém a olhar para mim. Ainda meio atrapalhada por ter ignorado a sua voz durante alguns segundos, peço desculpa e retiro os “fones”. A senhora de nacionalidade brasileira dirige-se a mim com uma folha branca com alguns escritos e pede para eu ficar com ela, ler e reflectir, depois sai…olhei para trás mas já tinha saído do autocarro.

Esta é daquelas coisas que nos deixam a pensar…porque eu? Será que não havia mais ninguém naquele lugar com ar de quem precisava de ajuda ou foi mesmo o meu olhar apático que lhe fez crer que eu precisava de encontrar o meu “caminho” ?

Quanto ao escrito em si nada de novo mais uma daquelas fábulas que enchem diariamente o nosso correio electrónico. Esta intitulava-se “Pegadas na Areia”, reconhecem? Certamente, mas se não conhecerem basta uma breve pesquisa pelo Google que não faltará páginas com este texto. Não vou transcrever o texto mas basicamente fala de um homem e do “senhor” e do caminho que ambos percorreram…juntos.

Não sou totalmente céptica, nem contra aqueles que espalham a mensagem do "senhor", mas será que existe alguém demasiado ingénuo para acreditar que ele estará por perto sempre que algo correr mal?

Acredito na fé, acredito que há algo superior a todos nós, mas que não nos protege...apenas coloca ao nosso dispor todas as ferramentas para que nós próprios possamos traçar o nosso caminho...

Mas sim, aquele episódio mexeu comigo, não pela história em si mas pela situação...a cada dia que passa sinto que nada é puro acaso,sinto que os outros existem e que estão lá. Por mais que procure um momento só em cada pedaço meu existirá um pouco de cada um de vós...

Depois de algum tempo sem partilhar encontros de todos dias estou de volta...num outro lugar mas na minha terra...

Até breve!


domingo, 1 de agosto de 2010

Aproveitar a vida...


"Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros, apreciem cada momento e agradeçam e não deixem nada por dizer, nada por fazer..." (António Feio)

Todos vós já leram e releram estas palavras. Por todas as páginas do facebook existem referências a António Feio e à mensagem de força e esperança que nos deixou. Não sou de clichés nem de frases feitas mas estas duas linhas são mais do que meras palavras são uma verdadeira lição de vida…

Sempre que alguém relativamente famoso morre existe um enorme alarido em torno da sua pessoa, palavras de conforto, lágrimas de tristeza e muitas palavras de agradecimento…só é lamentável que em vida não tenham tido direito a muitas destas…

A verdade é que tudo tem um princípio e um fim e o ser humano não é de todo uma excepção. A morte é sempre algo que nos confunde que nos deixa sensibilizados…é triste.

Mas deixemo-nos de exageros e de lamentações…vamos viver a vida, vamos viver intensamente cada momento, vamos utilizar a máxima “ não deixar para amanhã o que podemos fazer hoje” como bússola para o nosso caminho.

Por vezes damos por nós a pensar no amanhã, num futuro longínquo onde tudo é perfeito... quando damos por nós estamos perdidos numa imagem de um dia que teima em não chegar e aí pensamos em tudo o que perdemos e nos dias em que não vivemos…

Hoje acordei e pensei no sentido destas palavras, olhei pela janela e sorri, senti que lá fora estão todos aqueles que adoro, tudo o que me faz feliz e que a vida é demasiado fantástica para perder todos estes momentos…

Minhas gentes aproveitem e absorvam verdadeiramente a essência das palavras de António Feio, não as sintam pelo momento mas revejam nelas a oportunidade de serem inteiramente felizes…

Perdoem-me o discurso moralista mas descobri que viver é mais do que lamentar o que não podemos ter, é mais do que chorar pelas nossas perdas. Viver é sorrir todos os dias e pensar que agora é o momento, assim dificilmente haverá arrependimento pelo que não foi dito, pelo que não foi feito…

Um bom dia a todos! Aproveitem…seja o que for…


Até Breve!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Devaneios pela madrugada...


Aqui estou eu…algum tempo depois das últimas palavras…

Os dias passavam e eu planeava o meu regresso, mas “viver” não me permitia despender o tempo necessário a este meu lugar. Senti falta da minha escrita, senti falta da minha inspiração, senti falta essencialmente deste meu refúgio de momentos…

Não pensem que as histórias faltaram porque todos os dias existia alguém que tocava a minha vida, uns mais que outros é certo, mas foram muitas as gentes que tocaram o meu mundo e que contribuíram para o "hoje". Porém quis esquecer os outros, pensar em mim e viver o meu ego sem que os gestos dos outros fossem significantes para o meu dia-a-dia. Mas eles continuaram por cá, mesmo com a perda de alguns e com ausência de outros, pois a verdade é que sem eles pouco ou nada faria sentido…

Continuo no meu mundo com as minhas gentes, mas os rostos parecem diferentes. Sinto-me no mesmo lugar, mas sei que mudei de “casa”, sei que ainda estou perto mas suficientemente longe dos meus “vizinhos”. Mudei de “rua”, mudei de repente, caminho e sinto-me cheia de força, tento não olhar para trás para não sentir a nostalgia de outros tempos, mas não resisto pois ainda consigo ver as casas daqueles que outrora faziam parte do meu quotidiano.

Volto a respirar e no ar encontro a minha nova essência, tento decifrar os seus aromas mas a minha inexperiência ainda não me deixa ser precisa, mas sigo em frente…sei que não a conheço, sei que este perfume pode ser ilusório e quiçá temporário mas gosto da sensação que me provoca…caminho…

Em todos os dias desta minha nova permanência vi novas gentes, conheci novas realidades e descobri que todas elas tem a capacidade de penetrar no meu ser, de marcar o meu corpo e deixar rastos de experiências em todos os meus pensamentos.

"Recordo a Sra. dos “banhos”, alguém que se despe de preconceitos, alguém que se deixa levar pela sua loucura e percorre caminhadas longas por jardins enquanto se banha em lagos, repuxos e tanques em camisa de dormir sem qualquer pudor. Dizem que se apaixonou e teve um desgosto que traçou o seu caminho para toda uma vida..."

"Recordo o casal do comboio, senhores de avançada idade que em 15minutos de uma viagem partilharam entre si momentos apaixonados de uma vida a dois, as suas palavras deliciaram-me a cada história. No final olharam para mim enquanto se ajudavam mutuamente no seu caminho e disseram – “minha menina não queiras ser velha”. Depois destas palavras só me conseguia imaginar assim…feliz apesar de tudo."

"Relembro as histórias de uma brasileira, que em cada dia percorrido no autocarro partilhava os seus momentos de luxúria, devaneio e loucura com os homens com quem viveu…senti o orgulho nas suas palavras e em nenhum momento mostrou arrependimento por algum daqueles seus episódios mais obscuros."

Todos estes são testemunhos de uma vida, de um caminho, de uma história…todos eles me mostraram de uma forma indirecta que na vida não há o certo ou errado, há a vida e esta tem de ser vivida a cada dia.

É certo que existem consequências de todos os nossos passos e devaneios mas se não os vivermos nunca saberemos se este era o caminho…

Está a tocar...6:30 hora de ir trabalhar, parece que o calor desta noite fez-me despertar mais cedo…
Acordar durante a noite, mergulhada em suor e embutida em pensamentos profundos despertou em mim, novamente, a vontade de divagar.

Perdoem-me minhas “gentes” se me alonguei em todo este depósito de palavras, mas senti falta de vos ter perto de mim…

Prometo…até breve!





terça-feira, 13 de julho de 2010

Palavras de ontem...




Nothing's gonna change my world...

Uma música, uma expressão…algo que traduz pensamentos de um fim-de-semana…

Palavras de um sábado longínquo mas só hoje publicadas (27-06-2010)


"Olho para este mar vazio, para este rio despido de si mesmo… Sinto a brisa…decidi sair… Existem “outros”, outros por toda a parte.
Mas aqui estou tranquila, sinto-me na minha terra, no meu lugar…

Penso nos últimos dias, nos rostos que pairaram na minha cabeça…senti saudade, recordei momentos, lembrei desilusões. Todos fantasmas de uma vida que apesar de curta teima em ser intensa. Mas gosto de os guardar no passado, num lugar onde ninguém os procure…nem mesmo eu.

Mais uma vez perplexa, o meu olhar está vidrado em reflexos de um tempo que passou... aqui estou eu, mais uma vez, espelhada em momentos passados. Olho em redor, procuro alguém, alguém que me faça escrever. Mas voltei a ser protagonista de uma vida onde os outros são meros figurantes. Vejo os seus gestos,mas confundo os seus rostos. Ouço um ruído mas não conheço as palavras. Oh “gentes” onde estão? Procuro em vão... Toquem a minha terra, levem-me à razão…"

Passado alguns dias...

Tanta coisa mudou...o meu mundo mudou e as minhas gentes onde estão?

Até breve!


terça-feira, 22 de junho de 2010

Patriotas por um dia


Ao som das vuvuzelas…


Segunda-feira! Não acredito,mais uma semana.

Não posso simplesmente recuar dois dias e voltar a estar em plena Costa Alentejana? Porque será que sempre que faço perguntas ao tempo tenho respostas silenciosas?
Um dia ainda o engano…

Nasce o sol, começa o verão…na rua circulam corpos desprovidos mas ainda sinto o fresco de um calor tímido. Mais um dia e ele teima em não aparecer, os minutos passam e sinto em mim a ansiedade de não conseguir chegar. Aí está ele, mas atrasado.

Algo está diferente…onde estão os ruídos zangados de quem é parte integrante de uma crise nacional? Onde estão as lamentações de quem sofre na pele o aperto do cinto?
Parece que todas as lamurias ficaram perdidas no tempo, dando lugar a uma euforia colectiva…Joga Portugal!!!!

É incrível a capacidade que o futebol tem…capaz de criar uma amnésia momentânea, tornando-nos apenas rostos de uma voz.

Por breves instantes sinto-me à parte de toda esta empatia mas é impossível ficar indiferente a todo este movimento…FORÇA PORTUGAL!!!

Chego ao escritório, o jogo está na ordem do dia…parece que hoje temos almoço futebolístico.

Aqui estou eu de olhos postos na televisão. Para além dos 11 que correm em campo e do verdadeiro treinador ainda estou rodeada dE “ Grandes” treinadores de bancada. Na frente uma mulher histérica que fala com a televisão…recorda-me a minha avó quando está a ver a novela e teima em conversar com os actores. Atrás, um miúdo de voz irritante que ligou as pilhas e parece que ficaram para durar…

Por lá os outros…homens de meia-idade que acarinham os nossos jogadores com termos perversos, jovens que discutem a táctica da nossa equipa e o proprietário do espaço que tem sempre uma “piada” a dizer.

Apesar de todo este ambiente popular sinto-me na minha terra, com a minha gente…

O coração palpitante, as mãos suadas e os sons do entusiasmo, naquele espaço, foram totalmente abafados por uma voz vinda da cozinha…esta alma bradava aos céus e por intermédio do divino rádio partilhava com todos os seus fiéis as previsões daquele momento.

A verdade é que de divino não tinha nada mas de ridículo teve muito...dei por mim de olhos fechados e ouvidos postos no fundo daquele lugar. Pobre alma desprovida de atenção…certamente.

O apito toca e ali estava uma pequena amostra de uma nação esperançosa e orgulhosa daquele momento.

Sempre ouvi dizer... "mais vale ser feliz um dia do que infeliz toda a vida".

Agora é hora de regressar...

Até breve!

sábado, 19 de junho de 2010

No fundo do baú...


Há uns dias atrás...

Toca uma, toca duas, toca três…peço que pare, mas continua. Não é possível estar a pedir ao meu telemóvel que simplesmente desligue o despertador…estou ensonada, quero dormir. Ganho balanço e levanto-me, a partir daí parece que tudo funciona como uma dança. Banho, roupa, pequeno-almoço, o último olhar para o espelho e sair…

Não acho normal, está a chover…porque é que ninguém me disse que hoje era dia de calçar as botas? Não vou voltar atrás, deixo-me ir…sinto os pés molhados, o cabelo a encolher e tenho a sensação que o Inverno não passou. Aí está ele, o meu autocarro…entro, fico de pé a ouvir as histórias hilariantes do fim-de-semana de pequenos adolescentes à espera de crescerem. E apesar daquele barulho ensurcedor gosto de ouvir as suas “aventuras”.

Ainda me sinto dormente, encosto a cabeça ao vidro e tento fechar os olhos mas os solavancos do autocarro não me permitem cair no sono. O autocarro pára, saem algumas pessoas e de repente, ao olhar para a paragem, vejo um vulto familiar. Aquela cara, o ar apático, e algumas características faciais que reconheceria em qualquer lugar...encontrei-o no fundo do baú das minhas memorias.

Recuo cerca de 10 anos e ele está lá. Recordo-me da sua alcunha, da forma como era alvo de gozo dos outros miúdos, e pela forma como vivia o seu mundo. Para todos nós ele não era normal, havia quem o achasse "deficiente"…mas na verdade a sua única deficiência era atenção. Deve ter sido por isso que durante algum tempo ele achou que eu era o amor da sua vida. Como é possível uma criança na entrada da adolescência sofrer por amor ao ponto de simular um suicídio? Acho que na altura não dei grande importância, mas o facto é que ele ia atirar-se, no entanto era provável que àquela altura conseguisse "apenas" partir uma perna.

Hoje não conheço o seu rumo, não sei onde pára mas o facto é que marcou de alguma forma parte da minha vida. Durante algum tempo senti a sua perseguição, por vezes incomoda mas sem malícia. Por vezes pensava...mas porque é que apenas os rapazes “assim” se interessam por mim.?Quando somos crianças as nossas inseguranças são tão simples, por vezes até ridiculas... mas naquele momento era o maior dos dramas.

Anos mais tarde percebi que isto não era um defeito, era mesmo feitio. Por mais espontânea e impulsiva que fosse sempre fui atenta, sempre dei importância aos outros (o que nem sempre foi bom), e foi esta atenção que sempre levou até mim pessoas completamente à parte.
O autocarro partiu e fiquei a pensar no seu gesto à 10 anos atrás…de alguma forma fui importante para ele. Por mais insólito que seja, tudo tem o seu significado…

Até Breve!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Hoje...não as quero ouvir!



Ontem foi assim…


Um dia cheio…trabalho, trabalho e para terminar uma passagem pelo ginásio para não deixar descurar a imagem. Que depois dos relatos que se seguem vai ser totalmente posta em causa.

Apesar do cansaço visível no meu corpo quero treinar até ao fim, mas o relógio chama por mim...são horas, horas de sair. Saio a correr, apenas o tempo de passar no balneário e trazer a mala…corro e quando chego à paragem ainda sinto as marcas do último exercício.

O banho? Esse ficou para trás…ainda carrego em mim o suor de uma hora e meia de treino. Repugnante? Talvez…mas quando se entra num autocarro onde os odores se misturam, as pessoas se confundem e os olhares se apagam a minha fragrância perde-se totalmente no ar.

Caras desconhecidas, vozes ausentes mas nem por isso deixam de influenciar toda uma viagem. Quase adormeço…lembro-me que no meio de toda aquela confusão esqueci-me das sandálias…por breves instantes sinto-me perdida na “Cinderela”. É no meio de toda esta divagação que surgem três gargalhadas enormes que me acompanharam durante um longo percurso.

Três personagens aparentemente insignificantes mas com uma enorme capacidade de me instalarem uma severa dor de cabeça. Senhoras para além da meia-idade que riem no autocarro como se não houvesse amanhã, são às dezenas. Mas estas tinham a particularidade de ter um riso completamente intolerável. Para a acrescentar a toda esta sonoridade as senhoras relatavam um episódio que uma delas tinha assistido. Parece que viu duas raparigas totalmente despidas de preconceito a trocarem uns beijinhos, aquela alminha estava escandalizada mas nem por isso deixava rir. Pior ainda eram as piadas…

Mas será que ninguém explicou a estas senhoras que misturar comprimidos dá nisto? Penso que não…certamente que a saga da velhotas do autocarro não fica por aqui.

Eu só imaginava se alguma tinha incontinência…então é que essência do autocarro passava de incómoda a insuportável.

Resumindo, bastaram três seres para tornar o que restava do meu dia bem mais difícil...


É mais do que motivo para dizer aqui na minha terra que ”Raios partam as velhas…”

Até breve!